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quinta-feira, maio 30, 2013

Ela usava um vestido de gala, longo, cheio e vermelho. Ele delineava perfeitamente a sua cintura e deixava seus seios perfeitamente marcados. Mas algo estava errado, ela tomara o caminho oposto, com duas mechas ao vento enquanto o resto do cabelo estava preso num coque, ela tomava uma direção conhecidamente perigosa, estava a caminho dele. Algo em seu peito sabia que seria decepção, como todas as outras que ela fez ele sentir, e que ele a fizera sentir também, e se algo realmente feliz estava num passado longe daquele momento, por que arriscar um ferimento ainda maior no coração? Nada se sabe, mas estava nublado, e ele a encontrou na porta com um meio abraço e um sorriso lindo. Veja, tudo aquilo era uma problemática, por que de início existia todo uma tensão sexual do encontro, mas como constatado havia algo errado. Já tinha um tempo que eles não se viam e a vida dele era outra, a mulher ao lado dele era outra, e o vestido vermelho que ela vestia era o resultado de uma festa de seu próprio noivado, onde deveria estar. Mas não estava. Estava na varanda da casa dele, se vigiando pra desviar o olhar daqueles lábios que automaticamente teimavam a ir na direção dos dela mas freavam a vontade. Sem rodeios, ele não a quis, ainda que os olhos, o corpo, os lábios e a vida dele quisessem a dela, não a quis por que aquilo estava longe de dar certo, por que havia muita história pra haver paz, a dor que sucumbia o peito dela era maior do que a rejeição, existia por que tudo era complicado mas ela gostaria de ficar, perto dele, em seus braços, na sua casa, na sua cama. Deu-lhe adeus. Pararam por alguns minutos encarando um ao outro, até se cometerem a um abraço demorado e quente, a um beijo diferente, com Q de adeus, onde ela queria ficar pra sempre sentindo seu gosto, depois outro, e mais outro beijo, e o que ainda podia vir lhe fora negado. Arrumou o próprio vestido, se observou no espelho e foi. Embora pra uma festa que não queria que fosse a sua mas que era, pra um noivo lindo e atencioso que não tinha seu coração. Fora, como quem nunca mais voltaria! 

Quente e pesadas, eram as lágrimas que escorriam pelo rosto dela minutos após pisar em casa. Encontrara sua mãe num desespero sem tamanho por ter talvez perdido a filha momentos antes do casamento, a abraçou e juntas choraram por alguns segundos e pelo mesmo fato: ela se casaria. Como num flash o dia chegou, o entusiasmo era tangível nos convidados e amigos do casal, a exceção talvez fosse a noiva que apertava os próprios dedos na barra do vestido branco, que sentia o coração saltar dentro do peito querendo se libertar daquela sensação de estar fazendo tudo errado pra si mesma, e corretamente pros outros. Sua melhor amiga e também sua madrinha lhe dizia que conhecia aquele olhar, mas que ele não iria aparecer, como sempre, o que houve entre eles era coisa passada. "Sorria e diga sim." Ela sorriu e disse sim, e a doçura no olhar do seu marido a machucava ainda mais, por que ele sim a queria, ele deslizava as mãos pela cintura dela como quem não quisesse outro lugar pra tocar, mexia no seu cabelo e tocava sua testa com a boca, a lembrando que a partir daquele momento seria só ele e ela. Flores, gargalhadas e votos de amor transbordavam dos convidados e a máscara que ela mantinha estava pesada, resolvera dançar. Acompanhada pelas madrinhas e amigas se deixou embalar por uma canção que adorava, que inundava seus ouvidos a chamando de "A sortuda". A garota de sorte machucou a perna e a viu sangrar, sentada no canto da pista sua amiga e madrinha a mandava cuidar do ferimento, ajudando-a naquilo. Era como se uma sucessão de coisas se desenrolassem naquela semana, e tudo que saiu da sua boca em resposta era que ferimento maior havia ali, dentro dela. Elas se olharam por alguns segundos e num infinito era compreensível o que fora dito. Nem a música, nem o marido, nem o vestido, nada daquilo permaneceria tanto tempo na sua memória quanto a imagem dele no fundo do salão. A sortuda.

OBSERVAÇÃO: O conto na realidade foi um sonho que tive e passei pro papel.
Música do sonho: The Lucky One - Taylor Swift

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